quinta-feira, 3 de abril de 2008

Grande Depressão - parte I

trabalho para "História das Relações Internacionais"
Capitulo 4 (História das Relações Internacionais Contemporâneas)

O período entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais não tiveram uma expressão uniforme forjada por analistas, como “bipolaridade” ou “guerra fria”. Segundo Saraiva (2007, p.131) a preocupação em qualificar esse período esta presente nas interpretações de conjunto e na convergência de idéias nas expressões dos historiadores: um período de “paz ilusória” ou “paz frustrada”, uma “era da catástrofe” para Eric Hobsbawm. A paz de Versalhes foi a causadora de Segunda Guerra Mundial? Essa “paz” foi destruída pela depressão dos anos 1930 ou pela ascensão dos fascismos? Na verdade é que a regulamentação da paz destruiu o sistema de equilíbrio e gerou um período de instabilidade nas relações internacionais.

4.1 A regulamentação da paz e as falhas da ordem
4.1.1 A Conferência de Paz: decisões inadequadas


A Conferência de Paz, 18 de janeiro de 1919, segundo Saraiva (2007, p.132) tinha problemas na origem: a presença das 27 nações, que haviam lutado contra a Alemanha e seus aliados, tornava as discussões difíceis e, por isso, criou-se um mecanismo onde os cinco grandes (Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão) reuniam-se para sessões úteis; pela primeira vez, os vencidos não participavam das negociações.
A Alemanha firmara o armistício de 11 de novembro a 9 de janeiro de 1918 com base em 14 pontos propostos por Woodrow Wilson, para as negociações de paz. O líder norte-americano sonhava com uma revolução nas praticas da política internacional e da diplomacia, com o intuito de inaugurar uma nova era de paz. Essa postura era apoiada por David Lloyd George, chefe do governo Inglês, que permanecia, entretanto, de ouvidos atentos a Georges Clemenceau, chefe do governo e da delegação francesa, para o casa de o projeto de Wilson falhar.
A posição de força que a França ocupava na conferência advinha de três fatores: era considerada a grande vitoriosa contra a Alemanha; saiu da guerra como principal potência militar e sediava a conferência; a fraqueza do governo da Itália e do Japão contribuía para que os franceses atuassem com desenvoltura. A França faria prevalecer , sobre os outros grandes a sua percepção de que a paz resultaria do enfraquecimento alemão e do controle de longo prazo a ser exercido sobre o seu rival. Cinco grandes tratados de paz, firmados em 1919 e 1920 (Versalhes, Saint Germain, Trianon, Neuilly e Sèvres), dispunham sobre desarmamento e segurança, delimitação de fronteiras na Europa e questões econômicas e financeiras. A todos esses tratados anexava-se o pacto da criação da Sociedade das Nações.
As decisões da Conferência de Paz introduziram uma nova divisão na Europa, opondo o grupo de países satisfeitos (França, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Romênia e Polônia) ao dos países insatisfeitos (Alemanha, Áustria, Hungria, Bulgária, Turquia e Itália). Um documento alemão foi encaminhado à conferência em maio de 1919, nele, o governo alemão rejeitava o tratado, cujos termos eram considerados um Diktat. Clemenceau não aceitou a reclamação alemã e ameaçou-a com o reinício da guerra e com sua divisão em duas ( plano do Marechal Foch) caso não aceitasse o tratado nos termos definidos: impôs ao país derrotado a assinatura do tratado, a 28 de junho de 1919, na Sala dos Espelhos do palácio de Versalhes.
A reação mais surpreendente viria dos Estados Unidos; Wilson regressou um julho de 1919, sua atuação na Conferência dividiu a opinião norte-americana, que manifestou seu descontentamento nas urnas, recolocando os republicanos no poder por dez anos. Os sonhos democratas acabaram quando o Senado convenceu-se que convinha aos Estados Unidos regressar ao seu isolacionismo, rejeitando a ratificação do tratado de entrada dos Estados Unidos na Sociedade das Nações.
Houve divergências também no encaminhamento da questão colonial. À concepção norte-americana e à da Terceira Internacional de livre disposição dos povos e do exercício da autodeterminação – uma concepção anticolonialista -, os europeus opuseram-se, por meio da ordem que fizeram derivar de Versalhes, o conceito de povos “ainda incapazes de se governarem a si mesmos”, carentes de “tutela civilizatória”. Como donos da Sociedade das Nações , procederam a distribuição entre si das colônias alemã na África e na Ásia e à repartição dos despojos do Império Otomano no mundo árabe, ficando a França e a Grã-bretanha como grandes beneficiarias dessa partilha civilizatória. Os acordos de Versalhes levaram em conta interesses econômicos, estratégicos e territoriais dos vencedores, mas geraram um mundo confuso e desorientado, no qual as relações internacionais desenvolver-se-iam sob tensão. Uma de suas falhas de base era precisamente a de não considerar, nos cálculos estratégicos que a inspiravam, certas mudanças que estavam em curso na composição de forças do sistema internacional.

4.1.2 Nova situação econômica para algumas potencias

A Primeira Guerra Mundial provocou em remanejamento na posições de certas nações como potencias econômicas. Os Estados Unidos, que já eram a primeira potencia industrial em 1914, haviam de tornado, em 1919, os primeiros também como potencia comercial e financeira, dispondo de grandes estoques de ouro. Ao termino da guerra, os Estados Unidos e o Japão exportavam, respectivamente, 37% e 8% a mais, ao passo que a Inglaterra e a França registravam quedas de 33% e 14% em suas exportações. A Alemanha perdera 83% de seus haveres no exterior como reparações de guerra. Os europeus tornaram-se devedores dos Estados Unidos, invertendo-se a situação de inferioridade econômica, política e financeira. Segundo Saraiva (2007, p.136) os Estados Unidos teriam, se desejassem, o controle das relações internacionais; aumentaram sua frota de comércio, criaram bancos e conquistaram mercados da Ásia e da América Latina.
A disputa pelas fontes de energia e de matérias-primas criava zonas de tensão no Extremo Oriente, com a expansão japonesa; e, na Europa Central, a França e a Alemanha concorriam pelo carvão da Polônia e do Ruhr e também pelos minérios deste ultimo. As rivalidades pelo controle das jazidas de petróleo no Oriente Próximo eram menos importantes.

4.1.3 Novas concepções e objetivos de política exterior

Apesar de uma base econômica desvantajosa, a Europa ainda permanecia no centro do mundo, seja em razão da recusa norte-americana de ratificar os tratados de paz e de aderir à Sociedade das Nações, seja em razão dos litígios territoriais entre países satisfeitos e descontentes com as fronteiras fixadas ou, ainda, em razão da preponderância francesa que animava a rivalidade com a Alemanha.
Reunidos em Moscou, em março de 1919, os bolchevistas fundaram a Terceira Internacional com instrumento para inflamar a Europa e fazer a revolução mundial do proletariado. Era uma resposta às pressões que advinham do apoio capitalista aos exércitos brancos que combatiam a revolução comunista na Rússia. O pós-guerra era favorável aos objetivos originais da Terceira Internacional. Uma revolução socialista eclodiu na Alemanha em 1918, quando caiu a monarquia e implantou-se a republica. Tanto nesse país quanto na Hungria, onde também se criou o Partido Comunista, a revolução foi esmagada pela reação em apenas um ano. Contudo, o contagio despertava, em 1919, agitações operarias na Áustria, Inglaterra, Itália e França, como uma onda revolucionaria que acabou sufocada no Ocidente, dando lugar a algumas ditaduras abtibolchevistas no leste (Polônia, Áustria, Paises Bálticos, Bulgária etc.). Na Itália, triunfaria o fascismo em 1922.
Apesar da vitória do liberalismo e da democracia sobre os impérios e as monarquias autoritárias, os nacionalismos cresceram com a guerra e ela também o germe do comunismo, do socialismo, do pacifismo e do fascismo. De acordo com Saraiva (2007 p.138) este ultimo, produto indireto da guerra, resultado dos descontentamentos deixados por ela na Itália, faria a ponte entre a primeira e a segunda conflagração global, passando pelas fases do fascismo de humilhação, de sedutor do grande capital, do fascismo legalmente instalado no poder e reconstrutor do Estado autoritário e, finalmente, disposto a implantar pela guerra uma nova ordem internacional.
Essas mudanças nas forças profundas pesavam sobre as decisões e diferenciavam as potencias entre as que impunham sua existência entre as nações e aquelas, as grandes potencias, que podiam, alem de impô-las, cuidar da própria segurança ante as outras, essas ultimas eram: Inglaterra, Alemanha, França, Rússia, Itália, Estados Unidos e Japão.

Fonte: História das Relações Internacionais Contemporâneas (J.F.Saraiva)

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